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A natureza dos extremos climáticos

  • Foto do escritor: Heleno Proiss Slompo
    Heleno Proiss Slompo
  • 9 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de mar. de 2023

Como ocorrem os fenômenos da atmosfera considerados outliers


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Foto de Pexels


Os extremos climáticos são frequentemente noticiados pela mídia por serem eventos que causam numerosos danos para o ambiente e sociedade visto seu elevado potencial de impacto. Inundações, secas, temperaturas extremas e a ocorrência de temporadas mais intensas de furacões são alguns desses fenômenos de origem atmosférica, que ao redor do mundo ocasionam uma cadeia de prejuízos para a população e as economias dos países. Esses fenômenos são caracterizados por sua maior extensão de período e muitas vezes são uma repercussão de multifatores atmosféricos e podem se associar a extremos de outras naturezas, como os geológicos.


Esses eventos chamam a atenção por não serem frequentes e fugirem de um padrão climático considerado normal. É variável considerar o que é “normal climático” numa visão de escala global, visto que em cada região o clima possui diferenças de limiares, dificultando a formulação de índices genéricos que caracterizam um fenômeno como extremo ou não. Mesmo que potencialmente perigosos, esses eventos também não necessariamente possuem um fator destrutivo, pois a exemplo de furacões formados nos oceanos, a maioria não possui força suficiente para atingir a população continental como ocorre nos Estados Unidos. Outra questão é que existem anômalos climáticos, como as secas, que se desenvolvem silenciosamente e se pronunciam apenas no seu ponto extremo.


A natureza desses eventos pode ser tanto resultado de um padrão climático global que pode atingir seu nível de risco, ou a conjunção de dois ou mais fenômenos, sejam próximos ou não, que ao interagirem constituem um ambiente favorável para o desenvolvimento de um extremo. É o caso dos incêndios no Sudoeste da Europa em 2022, em que atingiram proporções de grande extensão em razão da confluência das ondas de calor e a acumulação de combustível seco em terra que agiu como condutor do fogo nas paisagens florestadas. Mesmo que os incêndios seja uma condição natural para o mantimento do ecossistema, a anormalidade visualizada e sua precoce origem caracterizou o evento como extremo.


Nesta situação, o fato foi resultado de uma gênese de dois fatores ou mais, como o possível papel dos raios, que pode também ser acrescido como variável. Esses agentes quando combinados podem gerar um evento extremo que ora, se isolados, não adquiririam essa proporção. De sua natureza, podem ser atmosféricos, geológicos e até humanos, como o caso do desastre de Petrópolis em fevereiro de 2022. O acumulado de precipitação no dia 15 do mês desse ano, em complemento com os fatores geológicos – o relevo de declividade serrano, bem como o solo – e as moradas em zonas vulneráveis, favoreceram o deslizamento de terra, desastre que acontece frequentemente desde o século passado na cidade carioca e que só vem aumentando com os anos.


Como no caso de Petrópolis, o evento de precipitações extremas pode ter origem de um acúmulo de elementos meteorológicos que persistem até atingir seu ponto de anúncio. Sistemas atmosféricos, como a presença de massas de ar e o fenômeno ENOS também são variáveis climáticas, que podem servir como forçantes desses fenômenos e que quando somados podem aumentar a probabilidade de ocasionar esses eventos. Esses processos, chamados de feedback climático, é a interação dos componentes de um ou mais sistemas climáticos que podem agir como negativo ou positivo para o desenvolvimento de um extremo ou até mesmo anular. Destaca-se aqui que seus efeitos são contrastantes a depender de cada localidade do globo. Por exemplo, o fenômeno ENOS pode colaborar para trazer chuvas e calor em certas regiões, mas, em contrapartida, pode ser uma variável positiva para acarretar um extenso período de estiagem e frio em outras.


Referências usadas


Marcos Rodrigues, Àngel Cunill Camprubí, Rodrigo Balaguer-Romano, Julien Ruffault, Paulo M Fernandes, Víctor Resco de Dios. Drivers and implications of the extreme 2022 wildfire season in Southwest Europe. BioRxiv (2022).


Seneviratne, S., Nicholls, N., Easterling, D., Goodess, C., Kanae, S., Kossin, J., . . . Zwiers, F. (2012). Changes in Climate Extremes and their Impacts on the Natural Physical Environment. In C. Field, V. Barros, T. Stocker, & Q. Dahe (Eds.), Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation: Special Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change (pp. 109-230).


TORRES, G.P., Carmo, L.F.R., Palmeira, A.C.P.A. (2020), Estudo da relação entre precipitação e deslizamentos no município de Petrópolis – RJ, Revista S&G 15, No. 1, 38-45.

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