Adaptações biológicas ao clima
- Heleno Proiss Slompo
- 23 de mar. de 2023
- 4 min de leitura
Como a fauna e flora são capazes de se adaptar aos climas nas variadas regiões do globo

Cacto no deserto (foto de Reed Geiger); urso polar (foto de Annie Spratt); Amazônia (foto de Nathalia Segato)
A distribuição das espécies de animais e de plantas na superfície terrestre segue um ordenamento para sustentar uma estabilidade entre os componentes biológicos do sistema; deste modo, conforme os fatores limitantes abióticos (como o clima, o solo, o relevo), uma população é potencialmente dotada de sucesso de sobrevivência através de suas adaptações ao ambiente, enquanto outras são obrigadas a migrar para outras áreas na busca de uma maior tolerância ambiental, ou são naturalmente extintas em seu percurso evolutivo. O clima é um desses fatores mais cruciais para o sucesso das espécies, pois é ele que se apresenta como o mais determinante para modelar a dinâmica de um ecossistema; por exemplo, é com um padrão de temperatura e precipitação de certo ecossistema que já é possível inferir as características da biota regional.
Esses padrões em ambientes tropicais são considerados os mais estáveis do planeta. A elevada radiação solar permite uma maior produtividade na fotossíntese das plantas e, como consequência, a diversidade que é notável nessas zonas. Quando a energia solar é transformada em matéria orgânica, o fluxo desta biomassa é intenso, e perpassa a teia alimentar complexa que ocorre em florestas tropicais, e que reflete na heterogeneidade das espécies. Começando pela vegetação perenifólia que é constante e densa o ano todo, exemplo da floresta amazônica, vigorosa e de árvores lenhosas de maior longevidade; as folhas são largas e grandes, permitindo um elevado fluxo de evapotranspiração. As angiospermas se apresentam como exuberantes e diversas, sendo a amazônica abrigando 14 mil espécies, segundo um levantamento do Museu Goeldi. No bioma amazônico não se observa muitos animais de grande porte, deixando para os animais menores uma presença mais notável, em especial os anfíbios, e aves como a arara azul.
A densidade das copas das árvores formadoras de dossel são um fator limitante para a entrada de iluminação, o que não permite o desenvolvimento de tipos de espécies de fauna e flora, como a vegetação rasteira observada no bioma savânico e certos mamíferos. Nestas regiões, espécies faunísticas de menor porte ganham espaço, como os arbustos e árvores mais baixas. Isso se deve a uma certa limitação de desenvolvimento vegetativo num contexto de grande sazonalidade climática. A baixa pluviosidade e elevadas temperaturas criam um ditame adaptativo para plantas que possuem típicos estômatos que retém menos água, e adaptações como o revestimento de pilosidade, pelos que mitigam a constante incidência luminosa.
Mesmo assim os ambientes savânicos, como o cerrado brasileiro, ainda apresentam uma precipitação razoável em parte do ano, mas que é drasticamente reduzida em ambientes desérticos, caracterizados por serem anecúmenos e apresentarem uma baixa diversidade de flora, que se desenvolve somente em alguns ambientes lacustres como nos famosos oásis; seja nos desertos gelados ou desertos quentes, a matéria orgânica é baixíssima atingindo patamares mínimos neste segundo caso. A presença eólica é forte nestas zonas, o que torna frequente a evolução de extensivas dunas, como o maior deserto do mundo, o Saara, e as conhecidas tempestades de areias. O que se observa nestas zonas são vegetação do tipo xerofílica, representada pelos cactos, com estruturas físicas carnudas e pequenas, o que permite a retenção de água a seca extrema. Para o caso da fauna, o camelo retém água em suas bossas e a maioria dos animais aqui chamados de xerocoles adquirem água dos alimentos que consomem (seja plantas suculentas, de animais, etc.). Seus hábitos se restringem ao noturno, como mecanismo de defesa a forte insolação, como o rato canguru e outros pequenos animais.
Tal ciclo circadiano em ambientes desérticos quentes reflete em adaptações físicas como uma pele protetora de calor oriunda da areia, o que reflete pés grandes e pelos grossos dos camelos, e orelhas grandes para fins de liberação de calor corporal, como a raposa do deserto (o feneco). A busca de refúgios para tais condições adversas no deserto são um comportamento para evitar riscos de sobrevivência também.
Já em ambientes polares, de extremo frio, com temperaturas que podem chegar a 60°C negativos, o aclimatismo como “embolar” para reter calor é uma das estratégias dos animais homeotérmicos, e animais que vivem em colônias, como os pinguins, que ficam juntos amontoados ou deitados muito próximos permitindo a condutividade térmica. Muitos dos animais polares são capazes de criar uma reserva de gordura corporal para preparação ao inverno rigoroso. Outras adaptações são a apresentação do mecanismo de hibernação, como o esquilo terrestre do Ártico e o urso polar. Quanto aos aspectos físicos, a raposa do Ártico, ao contrário do feneco, tem orifícios menores, como pequenas orelhas para evitar perda de calor. A variação da espessura de pelos ao longo do ano e da plumagem também é importante para manter a temperatura corporal nos períodos mais frios.
Referências usadas
BLIX, Arnoldus. S. Adaptations to polar life in mammals and Birds. Jornal of Experimental Biology (2016) 219 (8): 1093–1105.
KURI, Piyali. Physiological and morphological adaptation of animals in the desert. Science for Agriculture and Allied Sector. Volume 3 – Issue 1.
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