Clima e lixo
- Heleno Proiss Slompo
- 21 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
Quais são as relações entre resíduos sólidos e mudanças climáticas

Imagem de photoikigai
São muitas as fontes que contribuem para o incremento da temperatura média global que hoje é cerca de 15°C. O desequilíbrio natural como causa antropogênica muitas vezes apontado, levanta dúvidas e preocupação não apenas por parte dos cientistas, mas estendida para a própria sociedade. Isso resulta em uma mudança de hábitos da população e a demanda de políticas públicas eficientes em prol de um dilema ambiental muito em voga. Um exemplo dessa problemática é a busca pelo tratamento devido dos resíduos sólidos.
É indicado que os resíduos sólidos são uma dessas fontes de gases de efeito estufa (GEEs), com uma contribuição de aproximadamente 5% do total. A maioria dos resíduos sólidos urbanos, quando transferidos para ambientes como os aterros sanitários, contribuem para a liberação de gases gerados como subproduto da decomposição química. O maior exemplo é o metano, liberado na decomposição de resíduos orgânicos. Por sua vez, os resíduos inorgânicos não liberam esses gases, a menos que sejam incinerados. Se racionalizar o problema, se perceberá que todo o processo, desde a coleta, transporte, e o tratamento, contribuem para o incremento de GEEs, seja direta ou indiretamente.
Ainda faltam estudos mais detalhados por ser uma linha de pesquisa pouco difundida a nível necessário entre os cientistas, que costumam se ater mais aos combustíveis fósseis. O que por vezes se avalia, são os eventos climáticos com efeito direto no lixo e o seu gerenciamento: baixas temperaturas e precipitações intensas causadas pelas mudanças climáticas, pode ter efeito nos processos biológicos de compostagem e digestão anaeróbica; a intensidade de precipitação e ocorrências de extremos como furacões, podem trazer prejuízos para as infraestruturas de tratamento de lixo, além de aumentar a poluição de áreas costeiras.
Assim se problematiza que um manejo adequado do lixo e uma adaptação climática é uma preocupação para a qualidade de vida urbana e do sistema ecológico. O lixo ultrapassa escalas, visto que de uma produção individual doméstica, se acumula em escala urbana e se transfere para áreas afastadas como os aterros, e demais locais de tratamento. Quando mau o descarte, pode se acumular em regiões como os lixões a céu aberto, os sistemas hidrográficos, oceanos como no Giro do Pacífico Norte, e outros. Como consequência climática, este lixo depositado de modo inadequado prejudica os fluxos bióticos responsáveis por uma regulação climática a nível local e regional.
A produção de resíduos sólidos urbanos (RSU) no mundo é estimado em 1,7 a 1,9 bilhão de toneladas métricas. O tratamento desse lixo é desigual entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos; os subdesenvolvidos sofrem com a más políticas públicas e limitação de recursos financeiros, e por isso, nesses países metade do lixo é descartado a céu aberto. A previsão é de que até 2050 os desafios aumentem nesse contexto de mudanças climáticas, e o aumento da população, especialmente na Ásia, que contribui com a maioria da geração de RSU. Os materiais biodegradáveis de quintal são a maior parcela nos asiáticos em desenvolvimento, o que vai demandar políticas de adaptação para o tratamento dos resíduos.
Referências usadas
Gichamo T, Gökçekuş H (2019) Interrelation between Climate Change and Solid Waste. J Environ Pollut Control 2(1): 103
C. Visvanathan, “Solid Waste and Climate Change: Perceptions and Possibilities”. Proceeding of the International Conference on Solid Waste Management (Technical, Environmental and Socioeconomical Contexts), Khulna, Bangladesh, 2009.
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