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Ansiedade climática

  • Foto do escritor: Heleno Proiss Slompo
    Heleno Proiss Slompo
  • 9 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de nov. de 2024

Como a crise do clima afeta a saúde mental das pessoas


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A mudança climática leva a dilemas existenciais. Fonte: Wix.


O clima global está mudando de forma mais persistente que nunca com o aumento significativo da temperatura média da Terra. As consequências desse aquecimento são cada vez mais evidentes e intensas, manifestando-se em eventos extremos como secas prolongadas, inundações devastadoras, ondas de calor e frio, além da intensificação de furacões e outros fenômenos extremos. Esses eventos exercem um impacto direto e indireto sobre a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que a maior parte das pessoas já tenham sido afetados por esses fenômenos climáticos anormais, que ameaçam profundamente a vida ecológica e social. Além destes impactos tangíveis sobre o meio ambiente e a sociedade, os eventos climáticos extremos têm gerado crises de saúde mental. A ecoansiedade descreve o medo crônico e a preocupação recorrente com as consequências das mudanças ambientais. Essa ansiedade, muitas vezes acompanhada de sentimento de impotência e frustração, está se tornando um fenômeno mais recorrente, e, em alguns casos, até clínico.


A Psicologia Ambiental já demonstrou a íntima relação entre a natureza e o bem-estar humano. Ambientes saudáveis contribuem para o desenvolvimento de indivíduos mais motivados e satisfeitos com a vida. No entanto, o bem-estar individual não pode ser dissociado do bem-estar planetário. De pouco adianta o indivíduo estar bem consigo mesmo, se o mundo está à beira do caos. A preocupação com o meio ambiente, muitas vezes chamada de "ecocentrismo", reflete um olhar mais amplo que considera as gerações futuras e as relações ecológicas como um todo. Em contrapartida, ao se deparar com a própria impotência frente aos fenômenos climáticos e ambientais mais intensos pode gerar a chamada ansiedade ambiental. Essa ansiedade, que pode variar de uma preocupação crônica a um quadro clínico, emerge do sofrimento antecipado de eventos potenciais de acontecer. Embora a ansiedade ambiental possa gerar sofrimento, ela também pode ser vista como um sinal de empatia e altruísmo quando de baixo grau. A preocupação com o futuro do planeta pode despertar as pessoas a buscarem soluções e a se engajarem em ações que contribuam para um mundo melhor.


De outro lado, ambientes poluídos e com temperaturas adversas podem gerar estresse e comportamentos mais agressivos, como já discutido no post sobre “Clima e Criminalidade” e outros estudos. Considerando o histórico individual e predisposição genética, a relação entre o ambiente e o comportamento humano é cada vez mais claro nos estudos da Psicologia. Em situações de pós-desastre, as relações humanas podem ser tanto agressivas, quanto levar à solidariedade em resposta à crise. As catástrofes ambientais levam a perda de lares e a necessidade de migrar acabam por gerar sentimentos de crise existencial. Outros indivíduos, sem experiência direta com esses eventos extremos, sentem uma profunda preocupação com o futuro do planeta, sendo nestes casos, a chamada ansiedade "biosférica". Logo, essas preocupações podem manifestar-se de diferentes formas: alguns focam no bem-estar individual e de seus futuros descendentes, enquanto outros adotam uma perspectiva mais altruísta, preocupados com as futuras gerações e no seu caráter transformador, refletindo em grupos de jovens como “Fridays for the Future”. Um comportamento mais radical é a decisão de algumas mulheres jovens de terem menos filhos, temendo as dificuldades que eles enfrentarão em um mundo cada vez mais hostil.


Os estudos sobre a ansiedade climática, como em qualquer área da Psicologia, enfrentam o desafio de generalizar os efeitos ambientais. A falta de um arcabouço teórico e técnico mais robusto e detalhado dificulta a análise das diversas realidades sociais e contextos que desencadeiam a ansiedade climática. Mas sabe-se que esta condição, quando crônica, não é um padrão comportamental, variando não apenas pela idade, mas, sobretudo, por sua razão espacial. Comunidades rurais, indígenas, quilombolas, países vulneráveis e insulares tendem a apresentar níveis mais elevados de ecoansiedade devido à exposição direta a fenômenos climáticos adversos. A forte conexão dos povos indígenas com a natureza os torna particularmente sensíveis às mudanças ambientais, enquanto países insulares e africanos, por suas características geográficas e menor capacidade de resiliência, sofrem ainda mais com essa ansiedade. Entram no escopo de análise questões como a “topofilia” e mudanças radicais da vida pós-desastre. Em países mais desenvolvidos, a ansiedade climática se manifesta de forma diferente: muitos jovens, com mais tempo e recursos financeiros disponíveis e de financiamento, se engajam em movimentos sociais, demonstrando sua preocupação com o futuro do planeta. No entanto, fato é que a percepção de um futuro incerto e as perspectivas pessimistas contribuem para um sentimento generalizado de ansiedade.


Referências usadas


CRANDON, Tara J. et al. A social–ecological perspective on climate anxiety in children and adolescents. Nature Climate Change, v. 12, n. 2, p. 123-131, 2022.


CLAYTON, Susan. Climate anxiety: Psychological responses to climate change. Journal of anxiety disorders, v. 74, p. 102263, 2020.


KHADKA, Navin Singh. As mulheres que desistiram de ter filhos por temor sobre mudanças climáticas. BBC, 23 nov. 2023. Acesso em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c89q4w19wyqo#:~:text=A%20ansiedade%20clim%C3%A1tica%2C%20ou%20eco,nosso%20clima%20em%20r%C3%A1pida%20mudan%C3%A7a.>

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