O clima e a evolução dos hominínios
- Heleno Proiss Slompo
- 19 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Como a variação do clima influenciou a evolução humana
Neandertais na caça imagem de Kurt Miller/Stocktrek Images
A primeira dúvida que muitos devem estar se questionando é o termo “hominínio”, e não mais o popular “hominídeo”. Com o passar das discussões sobre os nossos ancestrais e novas pesquisas interdisciplinares, o conceito se especificou, e a abrangência taxonômica que englobava os humanos e os primatas próximos (Chimpanzé, gorila, orangotango), se bifurcou entre a Família “Hominidae” dos primatas, e os hominínios, a linhagem de espécie que representa apenas os humanos. É muito curioso imaginar que os hominínios se dividiram em muitas espécies dentro do Gênero Homo, e que por vezes, até recentemente coexistiram! Ainda são muitos os desafios para entender todo esse contexto evolucionista, mas hoje se sabe que o clima desempenha um papel primordial.
Isso porque o clima leva à uma pressão muito grande para todos os seres vivos, como já discutido no blog. Ele pode trazer três respostas dos hominínios: a capacidade de se adaptar ao ambiente e as mudanças em seus habitats a fim de manter sua linhagem por versatilidade; a dispersão para ambientes considerados mais viáveis para sua manutenção e como efeito as suas ramificações cladogênicas; ou a extinção pela sua maior especialização em determinado habitat, como ocorreu com várias espécies hominínias. As mudanças ambientais para os humanos trouxeram paulatinas alterações genéticas, mas, sobretudo, novos aprendizados geracionais sobre o ambiente em que viviam e novas técnicas aprimoradas.
A África passou por um processo de savanização há 2 milhões de anos que serviria como ponto de partida para o Homos. O rifteamento de sua porção mais oriental, emergiu novos habitats que foram cruciais para a divergência evolutiva dos primatas. A verdade é que no fim, a localização sempre importa. Foi observado em estudos paleontropológicos que uma característica da linhagem humana são as adaptações dentárias de cobertura do esmalte como efeito da ação de triturar alimentos mais duros, além de molares maiores e mais achatados pela sua nova dieta de tubérculos, raízes e gramíneas disponíveis nos períodos secos da savana. Esta ideia também é uma hipótese sobre andar ereto e a bipedia, além de uma das justificativas para a elaboração de ferramentas. Com a descoberta de novas espécies, se verificou que é difícil atribuir a savanização a relação causal entre tais adaptações dadas que os primeiros hominínios teriam evoluído paulatinamente essas características.
Foram os novos desafios que levaram a melhorias, mas também a maiores especializações limitantes. Evolução não significa progresso. Os desafios foram tantos ao longo das glaciações, que a população humana se reduziu drasticamente, o que a demandou novas adaptações, sobretudo de caráter mais abstrato, como a capacidade maior de interações sociais em grupos. Foram tempos difíceis de sucessivos períodos de maior frio e de interglaciares que teriam levado também à extinção da megafauna em 1,5 milhões de anos. Foi só com a gradual elevação da temperatura há aproximadamente 20 mil anos que foi possível modelar novos estilos de vida que deram origem, em muitos grupos, há sedentarização. A verdade é que havia ciclos que nossos ancestrais passavam fome, pois um período de glaciação dificulta a caça e limita a flora.
A busca por alimentos também teria sido um fator de dispersão dos erectus, que ao chegarem em porções temperadas da Sibéria teriam tido contato com melhores carnes como de mamutes, renas, dentre outros animais. Essa instabilidade térmica é uma forte razão para não acreditar na ideia do “Homem das Cavernas” atribuído aos Neandertais, que não necessariamente viviam em cavernas, pois o estilo ainda era nômade. Achados paleontropológicos indicaram que grupos de indivíduos viviam nas estepes e tundras com peles de animais e barracas feitas de mesmo material, e andaimes de ossos de mamute e outros animais. Então, a história humana há cerca 1 milhão de anos foi repleta de muitas provas de vida.
Ao se discutir a extinção dos Neandertais, pode-se conjecturar que as causas variaram, seja pelas diferenças entre esse grupo e a espécie sapiens, ou pela possibilidade de uma maior versatilidade dos sapiens em contraste com uma maior especialização dos Neandertais. É importante ressaltar que os Cro-Magnum não eram menos inteligentes; eles evoluíram de maneira diferente, com habilidades distintas da dos sapiens e adaptados à elevada latitude. Mas acredita-se que fatores como mudanças climáticas do último período de glaciação e a capacidade simbólica e de trabalho em grupo dos sapiens tenham contribuído para criar um ambiente competitivo e desafiador para os Neandertais, levando à escassez de recursos alimentares e conflitos. A própria adaptação genética dos sapiens a ambientes tropicais era caracterizada por troncos curtos e membros longos em relação à robustez dos Neandertais, adaptados a climas mais frios.
Referências usadas:
CLIMATE Effects on Human Evolution. Disponível em:< https://humanorigins.si.edu/research/climate-and-human-evolution/climate-effects-human-evolution>
Cunha, E. Como nos tornámos humanos. Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010.
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