Relações entre clima e criminalidade
- Heleno Proiss Slompo
- 7 de dez. de 2022
- 3 min de leitura
O que as pesquisas dizem sobre a relação entre as variações do clima e a ocorrência de delitos

Imagem de Sasin Paraksa/iStock
Os fenômenos da atmosfera como as mudanças no tempo atmosférico, ocorrência de tempestades e outros eventos são capazes de nos gerar variadas reações de comportamento, como o simples ato de se abrigar, a fim de buscar conforto. Nesse sentido, cada indivíduo percebe essas externalidades e modifica suas ações para sua adaptação ao ambiente de acordo com sua personalidade e contexto. É curioso pensar que certas dessas condições podem ter efeitos como de motivar os indivíduos a exceder os limites dos direitos individuais e os levar a atos de ilegalidade.
De vários estudos que buscam essa associação, se observou ser muito difícil considerar uma teoria geral de correlação absoluta entre clima e criminalidade. Foram várias as hipóteses desde o século 19 que buscaram explicar as variáveis meteorológicas no comportamento humano. A maioria dos estudos abordaram o papel da sazonalidade na ocorrência de crimes, por meio de métodos de descrição estatística e a partir de uma explicação causal baseada no positivismo. Com o passar do tempo novas perspectivas foram surgindo e novas variáveis foram levantadas, o que tornou o debate entre teorias ainda mais conflitante.
Os primeiros estudos relacionaram a elevação de temperatura e a ocorrência de crimes do tipo físicas, como a violência, e a redução centígrada aos casos relacionados a atos contrários à propriedade, como roubos. O fator temperatura ao longo dos dois séculos foi o mais explorado, estabelecendo conexões diretas entre o ambiente e o ato delinquente mais agressivo. Reações de desconforto térmico e irritabilidade nas estações de verão são mais comuns, e muitos são os estudos que apresentaram essa relação direcional. Entretanto, ainda há controvérsias de sob quais outras condições de temperatura essa lógica se seguiria para casos de crimes menos violentos e, se, fenômenos mais extremos seriam um fator limitante para o crime, bem como a variável do espaço temporal em que se é analisado.
Outras teorias apontam que nem sempre seria o clima o agente causador diretamente de alterações de humor e de perda de controle, mas seriam as condições do tempo como uma motivação de tomada de decisão do malfeitor para o sucesso da ocorrência de um crime: um tempo agradável à noite geraria maiores oportunidades para assaltos, bem como em dias mais quentes, as janelas abertas, geraria um ambiente mais propício para assaltantes, por exemplo. As mesmas condições meteorológicas amenas também seriam as responsáveis por aumentar as interações sociais e, portanto, a suscetibilidade de taxas de criminalidade como o hábito de sair fazer compras no Shopping, o que aumentaria os furtos.
No Brasil os estudos sobre o tema são ainda escassos. Um dos seus colaboradores, Mendonça convergiu com os demais pesquisadores ao redor do mundo, ao atribuir o fator de elevada temperatura à ocorrência de casos de infração. Entretanto, ele aponta uma visão mais abrangente das variáveis de suas dimensões, como o papel da rotina e os aspectos socioculturais envolvidos em cada contexto geográfico. Ele estudou dez capitais brasileiras de Norte a Sul, e em suas considerações apontou uma maior prevalência dos crimes em meses veranicos; porém, foi observado que os resultados não foram lineares e variaram o número dos meses e em cada região. O autor também colocou em voga, a questão de maior sociabilidade das épocas festivas e o consumo de álcool, duas importantes variáveis que constrangeriam o determinismo do ambiente.
Na virada para esse século, começaram a surgir novas perspectivas do tema, com uma especial atenção a questão ambiental e de mudanças climáticas. O crime, nessa perspectiva, seria o atentado contra a natureza por parte das indústrias e suas negociações para fins próprios, bem como suas consequências em sociedades de países mais vulneráveis às alterações do clima. Hoje se sabe a importância dos fatores subjetivos que levam a motivação do comportamento criminal na esfera individual a societária com abordagens psicológicas e sociais. Outra análise das dinâmicas espaciais é de grande valia para estudo de cada caso em complemento.
Referências usadas
KARMAKAR, Supratim. Various Dimensions of Impact of Climate on Criminality. Journal of Sustainable Science and Transformative Research - Reviews & Letters, Vol. 1, N°1, p. 1-4, 2022.
MENDONÇA, F. de ASSIS. Clima e Criminalidade: Ensaio analítico da correlação entre temperatura do ar e a incidência de criminalidade urbana. Curitiba: Editora da UFPR, 2001.
RANSON, Matthew. Crime, Weather, and Climate Change. Journal of environmental economics and management Vol. 67, N° 3, p. 274-302, 2012.
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